Por Agência Pública

Levantamento exclusivo da Agência Pública com dados do projeto Eleições Sem Fake, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), descobriu que aplicativos como TikTok e Kwai foram responsáveis por 41,3% dos vídeos compartilhados em grupos de WhatsApp entre os dias 1º de julho e 31 de agosto. O TikTok dominou a amostra: 108 dos 133 vídeos foram feitos no aplicativo. O Kwai respondeu por 24 e ao menos um conteúdo apresentou os dois logos sobrepostos.

Dos 133 vídeos do WhatsApp analisados pela reportagem, ao menos dez propagam informações falsas sobre o sistema eleitoral ou defendem o voto impresso. Também existem ao menos dois vídeos que criticam as pesquisas eleitorais

TikTok e Kwai cresceram com a promessa de facilitar a edição e o compartilhamento de vídeos, que podem ser baixados e levados para outras plataformas. As redes têm ferramentas que facilitam a mixagem de conteúdos, edição de som, imagem e vídeo. De acordo com investigação do Aos Fatos, esses mecanismos têm sido usados para cortar e descontextualizar gravações de forma a gerar desinformação.

A circulação do conteúdo para além da plataforma onde foi feito esbarra em um ponto cego de responsabilidade: apesar de produzidos dentro de redes específicas, os vídeos são largamente compartilhados em outros canais, o que dificulta o controle sobre as informações falsas e discurso de ódio.

Além do TikTok, também circularam mentiras sobre as urnas no Kwai e fora dele. No dia 23 de julho, um vídeo afirmava que o “STE (sic) comprou 32 mil urnas grampeadas para definir as eleições”, o que já foi desmentido. Neste ano, de acordo com estudo da Poynter Institute, 44% dos brasileiros dizem receber notícias falsas diariamente.

Desinformação em vídeo

Para o pesquisador Orestis Papakyriakopoulos, que estuda o consumo de conteúdo político no TikTok no Centro de Política de Tecnologia da Informação da Universidade de Princeton, o TikTok e o Kwai poderiam impedir o download de conteúdos que contenham possível desinformação sobre eleições ou outros temas sensíveis como forma de barrar a disseminação de notícias falsas.

O pesquisador considera que as plataformas onde são criados conteúdos desinformativos e antidemocráticos devem ser responsabilizadas por isso e tomar atitudes, mas entende que é necessário que Estados e Parlamentos façam parte desse processo. “Não acho que a rede deve decidir sozinha como agir”.

“Se um vídeo do TikTok está sendo compartilhado no WhatsApp, é possível detectar esse tipo de comportamento e tomar atitudes, mas também surgem questões sobre liberdade de expressão”, alerta Papakyriakopoulos, que considera que falta transparência por parte das redes para que a academia e a sociedade civil respondam a essas perguntas.

Em retorno à reportagem, o TikTok disse que leva “extremamente a sério a responsabilidade que temos em proteger a integridade da plataforma e das eleições” e conta “com uma série de recursos para ajudar os usuários a terem acesso a conteúdo educativo e confiável sobre as eleições brasileiras”.

A rede destacou que “proíbe e remove informações falsas sobre processos cívicos, comportamento de ódio e outras violações de suas Diretrizes da Comunidade” e afirmou que o TikTok não é “o principal destino para o debate político ou notícias de última hora”, o que teria levado a plataforma a banir anúncios políticos pagos. Confira na íntegra.

O Kwai também disse possuir “mecanismos de segurança que atuam combinando inteligência artificial e análise humana para identificar e remover o mais rápido possível conteúdos que violem ou infrinjam essas políticas assim que identificados” e informou “não tolerar” conteúdos “manipulados com intenção de atacar um indivíduo, grupo ou organização ou que tente obstruir processos democráticos”. Confira na íntegra. Ambas as plataformas possuem parcerias com agências de checagem de fatos durante as eleições.

De janeiro a março deste ano, o TikTok informou ter uma taxa de remoção de 83,6% de vídeos denunciados na categoria integridade e autenticidade. O Kwai, em seu relatório anual de transparência, informou que entre julho e dezembro de 2021 removeu 12,3 mil vídeos por violação de diretrizes.

As remoções representam 2% do total de vídeos carregados na plataforma até então.

A reportagem questionou as plataformas sobre sua responsabilidade na geração e disseminação de vídeos com informações falsas sobre o sistema eleitoral e o fato de que esses conteúdos circulam em outras redes, mas TikTok e Kwai não responderam.

Metodologia

A reportagem analisou os seis vídeos mais compartilhados em todos os dias de julho e agosto no monitor de WhatsApp do projeto Eleições Sem Fake e identificou quais foram feitos por meio dos aplicativos TikTok e Kwai a partir da presença da marca d’água dos aplicativos nas gravações. Foram analisados 322 vídeos (alguns dias não apresentavam seis vídeos como mais compartilhados). Fonte: Agência Pública

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