Nos últimos tempos, o mundo corporativo vem vivenciando um movimento tido como libertador para muitos profissionais: a demissão silenciosa ou “quiet quitting”. Esse, que já é considerado um fenômeno mundial nos ambientes de trabalho ao redor do planeta, começou na América do Norte, mais precisamente nos Estados Unidos, durante o período pós-pandêmico, justamente no retorno das atividades presenciais.
Na prática, o que se viu por lá foi uma verdadeira onda de pedidos de demissão. Motivado pela análise da satisfação pessoal com as atividades profissionais desenvolvidas, esse processo configurou um novo momento das relações de trabalho e da busca cada vez maior do equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Nesta ‘análise’ da jornada profissional, a ocupação, as atividades desenvolvidas e as projeções da carreira foram colocadas na balança, revelando inúmeros insatisfeitos com suas realidades corporativas.
Para além da onda de pedidos de demissão, outro comportamento foi evidenciado: o de se fazer apenas o necessário. A intenção com isso, por parte dos profissionais, seria ‘cavar’ a longo prazo uma demissão, a qual viria diante do comportamento marcado pela falta de engajamento e pró-atividade.
“É interessante perceber que esse comportamento, o qual desencadeou esse movimento, está bem evidente entre a Geração Z, ou seja, entre aqueles jovens que estão iniciando suas carreiras, adquirindo suas primeiras experiências no mercado de trabalho. Esse cenário, no entanto, tem provocado um verdadeiro choque de gerações por assim dizer, entre gestores e empresários, além é claro dos próprios RHs, com esses jovens profissionais. Isso porque, enquanto o primeiro grupo, que é formado por pessoas da Geração X e até antecessores à ela, há a cultura de ‘meu trabalho é minha vida’, temos o segundo, formado pela Geração Z, onde ‘a minha vida, não é somente o meu trabalho’. Neste contexto, esse choque de gerações e interesses provoca no mercado um certo nervosismo, já que inicia-se um desafio de atrair e manter pessoas nas empresas, bem como promover uma cultura organizacional de desenvolvimento de competências e carreiras”.
Janaína Machado, gerente do Unit Carreiras.
Entre as razões para o crescimento mundial do comportamento envolvendo o processo de demissão silenciosa, está a sobrecarga e o desgaste emocional no ambiente de trabalho.
Um caminho para fugir da síndrome do esgotamento, conhecida também como burnout, a demissão silenciosa, tem se mostrado uma rota na busca da saúde emocional no trabalho. No entanto, para muitos especialistas, essa alternativa pode representar riscos aos colaboradores e à produtividade das empresas.
“Quando adotamos uma postura de fazer o necessário e ir popularmente ‘empurrando com a barriga’, na tentativa de provocar uma demissão por parte da empresa, corremos sérios riscos de manchar nossa reputação profissional. Além disso, esse comportamento também é danoso para as empresas, já que há queda de produtividade e prejuízos ao próprio clima organizacional com colaboradores cada vez mais desmotivados e sem engajamento”, pontua a gerente.